Origens do Rosário - II

Desde tempos imemoriais, existia entre os cristãos fervorosos, clérigos ou leigos, o costume de rezar muitos Padre-nossos e Ave-Marias, usando-se, para conta-los, de cordéis cheios de nós, semelhantes ao nosso Terço atual; mas é tradição antiquíssima, confirmada muitas vezes, e até hoje, pela Santa Sé, que o Rosário propriamente dito, sob a forma duma “pregação rezada”, ou duma reza acompanhada de meditações sobre os mistérios da fé, foi revelado pela Santíssima Virgem, nos primeiros anos do século XIII, a S. Domingos de Gusmão, que por esse motivo é considerado como o  Fundador desta Devoção, ao mesmo tempo que da Ordem dos Pregadores, ou Dominicanos.
 
Escreve Frei Luiz de Souza, naquele estilo puro e saboroso do século XVII:
“Foi o primeiro pregador e promotor do Rosário nosso Padre S. Domingos. A Virgem acudiu-lhe com uma visão que, assim como foi para o Santo de grande consolação, justo e que o seja também para nós, e para todo o cristão enquanto durar o mundo, porque tanto durará o fruto dela, se a souberem aproveitar. Ensinou-lhe a sagrada devoção do Rosário, e mandou-lhe que a pregasse, com certeza de que seria eficaz.
“E porque ela foi dada pela Santíssima Virgem, nela temos cifrada a sua vida, seus trabalhos e glórias, de mistura com a vida e morte e paixão e gloriosa ressureição de Nosso Senhor, mereceu o nome do Rosário na língua latina, que na portuguesa responde, - Rosal.
“E” a rosa a mais nobre flor de todas as flores, por fineza de cor, por excelência de cheiro, por utilidade de virtude; alegra a vista, deleita o olfato, conforta o coração, e é conservadora da vida humana. Por estas qualidades, e porque nasce armada de espinhos e abrolhos que ofendem, é símbolo da honestidade e vergonha original, como parece das Sagradas Letras, onde o Espírito Santo, para declarar as excelências de Maria, disse em nome d’Ela:
“Ego flos campi!” que os Hebreus traduzem: “Eu sou a rosa dos campos!”    
“Não se podia logo achar nome mais próprio para uma devoção toda alternada em mistérios gozosos e mágoas da Virgem Mãe benditíssima, de dôres e glórias da Mãe e do Filho. Assim, depois que foi aprovada pela Igreja, logo se lhe foi aplicando tudo o que se acha escrito de rosas nas Letras Sagradas...
“Ficou a cargo de seus filhos (de S. Domingos) serem dela pregoeiros; e não fundaram casa nenhuma, sem dedicar logo juntamente particular capela ou altar com o título de Senhora do Rosário. Mas foi decaindo pouco e pouco esta devoção, e chegou a termos de estar quase esquecida. Foi servida, porém, à Senhora tornar a fiar dos mesmos Filhos de S. Domingos a honra de seu Rosário, e aparecendo primeiro ao nosso famoso pregador beato Frei Alano de la Roche, e depois ao Prior de Colónia (1), mandou a um e outro que ressuscitassem este santo gênero de devoção acomodado e fácil para os homens, ª agradável a Deus e Ela, e para alcançar misericórdias do céu, mui poderoso”.
 
O Sumos Pontífices, além de louvar e recomendar esta devoção, quiseram que ela tivesse no Ciclo Litúrgico uma Festa especial e que esta se celebrasse com grande solenidade todos os anos; e comprazeram-se em derramar sobre a mesma devoção com liberalidade sem limites, o tesouro das indulgências. Passados séculos, em 1883, o Papa Leão XIII veio juntar à Festa do Rosário outra graça pontifícia, o Mês do Rosário, e este obrigatório para toda a Igreja.
 
Assim, inspirado pela Santíssima Virgem, composto por um dos mais gloriosos Santos, e superiormente aprovado e recomendado pela Igreja, o Rosário foi recebido por todos os povos da Cristandade com simpatia e favor excepcionais, e com inexcedível amor. Tornou-se a devoção universal, a devoção dos Santos, dos Reis, dos Doutores, dos Teólogos e dos Cientistas, e também devoção mui querida dos simples e dos pequenos; sem contesto, a mais espalhada e a mais popular.
 
No Brasil, desde o descobrimento até hoje, o Rosário tem gozado desta absoluta popularidade. No início principalmente, foi um meio de catequese eficacíssimo, para o povo rude, para os índios e os negros, como o havia sido nos tempos de S. Domingos, sem todavia deixar de ser assunto frequente das pregações para os grandes, como vemos pelos sermões do Pe. Antônio Vieira. Em todas as povoações de alguma importância, havia igreja e Irmandade do Rosário, em-hora esta não fosse a “Confraria” do Rosário da que se fala adiante. Faziam-se festas e procissões, que, no correr dos tempos, podem ter degenerado, mas eram a prova do amor do povo a Nossa Senhora do Rosário. Por isso as Encíclicas de Leão XIII sobre o Rosário foram recebidas com alegria, e não foi difícil aos Filhos de S. Domingos que nessa época chegavam ao Brasil, proceder a uma melhor organização; os seus esforços foram acolhidos com entusiasmo pelos fieis e pelos prelados. O Rosário é sempre mais vivo entre nós.
 



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